quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tudo do Avesso



Já reparou como fazemos certas coisas ao contrário?

Eu sou um baita exemplo disso, segundo meus pais. Nem pretendo enumerar nada, mas quero falar de uma coisa em especial hoje: quero falar sobre ouvir, calar, falar…coisas que, por vezes, eu mesma não sei fazer com excelência. Engraçado que ontem eu já tinha esboçado este post, mas alguns fatos me comprovaram mais uma vez que eu devo publicá-lo, não para fazer volume, mas para ver se eu melhoro...hahaha.Ainda bem que o deixei arquivado.

Na volta da faculdade, eu não parava de falar. Talvez por felicidade de mais uma vez encontrar meu namorado, a me esperar, mas o fato é que eu não calava. Contava euforicamente o que meu dia me proporcionou, as sensações de cada momento, as alegrias, as raivas, as sessões de foto, bom...tudo. E as palavras chegavam a se atropelar. Posso tentar justificar-me dizendo que, chegando em casa, todos estão dormindo, e ninguém me ouve [coitada]. Ou que acordo em um horário que as pessoas já estão atarefadas demais. Bom, deixa para lá.

Engraçado a imagem que passamos para os outros. Às vezes é igual a que temos de nós mesmos, outras vezes é completamente diferente.

Posso te pedir um favor? É legal, vai. Vamos lá: Pare de ler esse texto agora e vá até seu espelho. Não, nada de fazer terapia, apenas olhe para você e me responda o que vê: Quantas bocas e quantos ouvidos? Pode ir, eu espero…

Pronto? Então vamos em frente. Se tudo estiver correto, você deve ter dois ouvidos e uma boca apenas, acertei? E isso quer dizer o que? Eu te respondo: Que deveria escutar mais e falar menos.

Contudo,seres humanos que somos, agimos de forma contrária, falando mais e escutando menos. Ok, temos que ter opinião, e é claro que nem todo mundo as possui. Há os chamados “seguidores dos outros” [o que não tem nada a ver com Twitter] e pouco se importam em questionar o que lhes é dito. Mas para questionar, aceitar, seguir ou seja lá o que for, é preciso antes de tudo, escutar. Isso é uma arte. E para poucos.

Eu mesma, a Fernanda Martinelli pessoa física, sempre fui de falar muito, ter síncopes, chiliques, mas… – sempre tem um “mas” – sou mais de falar para os outros sobre os problemas deles do que de mim mesma. Por que? Simples. Não conheci ao longo da vida muitas pessoas capazes de me ouvir. E olha que eu nem sou de exigir uma resposta, muitas vezes me contentaria apenas com alguém capaz de silenciar, ou até… capaz de escutar meu silêncio. Sim, isso mesmo que você leu, às vezes nem queremos que escutem nossas falas, queremos que escutem e entendam nosso silêncio.

Em vários momentos quando vamos falar de algo que nos incomoda, somos logo interrompidos. Tipo… você fala que está com dor de cabeça, a pessoa te interrompe e fala que a dor dela é maior. Parece até competição. Em suma, sempre tive dificuldade de encontrar eco quando falo dos meus problemas, quando tento descarregar o meu peso extra…e me calo.

Em meu trabalho tenho, teoricamente por obrigação, que ouvir mais do que falar. Mas é claro que isso só em teoria, por um simples motivo: Quem me procura não está fazendo isso sem motivo. Sabendo disso, eu acabo por me sentir a vontade, escutar tudo o que eles tem a me relatar para depois escrever minhas matérias. Não impor, e sim falar, discutir os problemas de forma profunda, fazendo uso da empatia e do bom senso. E certas vezes, descubro que meu silêncio ajuda muito também.

Ouvir problemas não é fácil. A tarefa é árdua, porém gratificante pelo simples fato de que eu entendo que é justamente isso que está faltando nas relações, sejam elas de qualquer natureza: Ouvir o outro.

Para quem procura ajuda deve ser delicioso perceber que está sendo ouvido. Por mais simples que um problema possa parecer aos olhos de quem escuta, para quem fala um ‘probleminha’ pode ser um monstro. E colocá-lo pra fora é, em certos momentos, um desafio grandioso. As pessoas não querem escutar, querem falar. A coisa se complica porque para quem está com o problema, a necessidade é de falar e não de ouvir. E como já disse, todo mundo fala mais que a boca.

Há problemas que são difíceis de resolver. Mas para quem os tem, só o fato de colocar pra fora já é um alívio. E se alguém escuta, já está ajudando e muito. Entenda-se por escutar, absorver, entender, ouvir de fato.

O que isso quer dizer? Bem… se você pensar nisso um pouco, poderá entender melhor que às vezes um amigo te procura porque precisa do seus ouvidos emprestado, para te contar algo e sem nenhuma necessidade de ouvir sua pregação, ele quer apenas desabafar.

Temos que ter consciência de que nem sempre o que falamos ajuda e como toda e qualquer relação é e tem que ser de mão dupla, um dia você ouve, noutro você fala.

Essa questão pode ser resumida assim: Tudo o que tem que existir entre amigos, família, casais e colegas de trabalho é apenas um ponto: Troca. E é bem possível, por que não dizer necessário ou viável, trocar palavras por silêncio.

Pronto, podem falar.

Um comentário:

Unknown disse...

Hum, muito bom...apesar de minha teoria teoria para nossos dois ouvidos ser por causa da aerodinâmica, a sua faz bastante sentido também.
haehae ^^

Brinks...realmente a troca é um ponto muito importante em qualquer relacionamento, caso nao ocorra esse equilibrio, este acaba pesando pra um lado até que desaba.
=s

Parabéns, ta escrevendo muito. (Y)

Allan.