terça-feira, 20 de outubro de 2009

Precisa-se de Babá no Brasil


Quem tudo quer, tudo quer.


O biscoito fino e a massa.
Graças ao meu novo e adorado óculos, li hoje de DENTRO DO ÔNIBUS um adesivo de um carro cinza com os dizeres: “A velocidade da tua força é o sucesso da minha inveja.”

Como faz sentido, fica demonstrada a estupidez da frase original. Aliás, difícil decidir o que é pior: se esses substantivos abstratos arrumados numa ordem coerente qualquer, ou se as parábolas de significado idêntico: “Um passarinho, quando voa, sabe a asa que tem.”
Continuo gostando apenas do que não tem lógica, e nisso algumas pessoas se tornam insuperáveis: “Bate com a mão na cabeça antes que o pé não chegue.” (eu ri quando ouvi)

Eu sempre entendi a reprimenda: sentido é apenas a metade de tudo.

No Rio, há alguns anos atrás, criaram certa vez um movimento chamado “Basta!” – logo parodiado como “Bosta!” – obviamente muito melhor. O objetivo era dar um “grito contra o atual estado de coisas”. Exige muita capacidade bolar uma idéia assim: uma palavra, um verbo tornado interjeição e... pronto. Depois, o grupo percebeu que as faixas estendidas nas varandas mais valorizadas da cidade não chegaram a desanimar os bandidos. Resolveu-se fazer alguma coisa concreta — só não me perguntem o quê, pois a essa altura do campeonato, eu já estava mais entretida com o obituário e os quadrinhos.

Mudando de rumo e buscando “soluções reais e factíveis”, o grupo perdeu sua maior virtude: ser o primeiro movimento inteiramente abstrato, teórico, sintetizado no minimalismo de uma palavra e um ponto de exclamação. Até mesmo o design seguia essa perspectiva: letras em vermelho sobre fundo branco. Apenas isso... e Basta! Que pena. Por mim não teriam que fazer nada. Protesto verbal é o que há. E faz muito sucesso...

Fico tentando imaginar o que vai na cabeça de pessoas assim. Deve ser alguma coisa parecida com o que pensam os criadores do Basta!. Se ainda assumissem o discurso vazio, sem fundamento e sem ação, contribuiriam mais com a causa do que qualquer ong (assim, com minúscula mesmo) jamais fez.

O problema, penso eu, é a falta de leitura. Basta uma horinha em frente a alguns pontos de São Paulo para verificar o que pode a inércia humana. Se bem que o “Prefiro não fazer” é pedir demais dessa gente.

Prefiro não fazer.

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