quinta-feira, 8 de abril de 2010

- Parece que hoje o tempo está perfeito. Sol e frio, e não está chovendo! Há quatro anos que moro aqui e nunca vi a cidade tão linda.

- Você gosta de São Paulo, não é mesmo?

-Ah, hoje sim. Mas detestava o lugar quando me mudei.

- Amor e ódio são vizinhos.

- Hum.

- Você conhece a fama da cidade?

- Que fama?

- Dizem por aí que sempre que alguém mora aqui e vai embora, acaba voltando depois.

- Bom, pode ser...Minha mãe é um exemplo disso. Talvez até eu seja também, algum um dia. Mas não sei quando vou sair daqui, muito menos quando voltarei.

- Não quer sair?

- Até quero. Viajar, conhecer outros locais, sim. Só acho que sempre voltarei pra cá, assim como para a cidade que vivia antes de vir, e como as outras em que ainda vou morar.

- Você é muito apegada aos lugares...

- Acho que crio um elo. É que... Sabe, depois de um tempo morando num lugar, um tempo considerável, quatro anos é considerável, não é? Depois desse tempo, fica tudo tão familiar! Tão seu, que é difícil largar. Tudo fica finalmente organizado do seu jeito, aquele tipo de coisa que você olha e sabe que tem uma mão sua ali. Você sabe quando a bagunça foi você quem fez.

- Sei, mas não gosto. Quando chega a esse ponto, entedio-me. E vou morar em outro canto.

- E aí passa a ter raiva?

- Não, mas não tenho vontade de visitar um lugar que abandonei.

- E as sensações?

- Quais?

- Cada lugar dá sensações diferentes a alguém. Nunca sentiu isso? Principalmente você, que troca tanto de cidade.

- Não, pra mim é tudo igual. Deve ser por isso que não faço questão de voltar a qualquer lugar que morei.

- Como eu disse, depois de certo tempo, como quatro anos, as sensações voltam. Por exemplo, algumas eu só tinha na primeira cidade em que vivi. Por causa do clima, pessoas ao redor, situações. E sentia saudade delas quando saí de lá, porque as sensações que eu passei a ter eram diferentes, e eu considerava estas piores, por isso tinha raiva daqui. Mas com o tempo, aquelas voltaram. E passei a ter aquelas e estas no mesmo lugar. Se eu me mudasse hoje, teria outras novas, até que as antigas voltassem. Entende?

- Caraca, que complicado isso! Fiz um esforço, porque eu me sinto igual em qualquer lugar. Praia, cidade, interior. Tudo igual.

- E as mulheres? Também são iguais?

- Como assim?

- Você se muda com frequência. As mulheres de cada lugar também são iguais para você?

- Hmm... É muito relativo. De algumas me lembro, outras se vir, não saberei quem são.

- Você não as associa às cidades? Uma mulher que você gosta àquela cidade tal, e então passa a ter gosto pelo lugar?

- Não, nunca foi assim. Porque sei que há mulheres diferentes, esperando-me em outras cidades por aí. Algumas me marcam mais, mas não significa que elas são melhores, apenas diferentes.

- Então são todas iguais, porque apesar de diferentes, nenhuma fez a diferença na sua vida.

- É. Pode ser.

- Espero que se um dia a fama da minha cidade se aplicar a você também, e se eu for pelo menos diferente, que você volte a me ver. O dia está lindo e eu tenho que aproveitar.

- Até mais ver.

- Até.

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